Logística de Fricção Zero: Utopia ou Caminho Estratégico?
Talvez sim. Mas a busca pela chamada “logística de fricção zero” já é uma realidade em grandes operações e não se trata apenas de automação, mas de conectividade inteligente, decisões baseadas em dados e fluidez operacional de ponta a ponta.
O que significa “Logística de Fricção Zero”?
É um modelo logístico em que todos os processos, sistemas, pessoas e tecnologias operam de forma:
- Conectada: integração entre ERPs, TMS, WMS, OMS e plataformas externas;
- Automatizada: mínima intervenção humana nos fluxos rotineiros;
- Orquestrada: decisões em tempo real com base em dados compartilhados;
- Previsível e transparente: rastreabilidade total e visibilidade ponta a ponta.
O termo deriva do conceito de “frictionless experience” já aplicado no varejo e no setor financeiro, e agora adaptado à logística.
Onde já avançamos?
As empresas mais maduras em supply chain já aplicam:
- Gate automation: veículos entram e saem de centros logísticos sem intervenção humana;
- Picking automatizado: por voz, luz ou robôs (AGVs);
- WMS e TMS integrados ao OMS (Order Management System);
- Inteligência artificial para previsão de demanda e roteirização dinâmica;
- Painéis em tempo real com indicadores operacionais (BI e IoT);
- Automação fiscal e documental via RPA.
Cases notáveis:
- Amazon: opera hubs com quase 100% de automação no picking e armazenagem.
- Magazine Luiza: integra canais online e físicos com orquestração via OMS em tempo real.
- Mercado Livre: implementa alta densidade de sorters, esteiras automatizadas e centros operando com mais de 400 mil pedidos/dia com intervenção mínima.
Mas… onde ainda há fricção?
Apesar dos avanços, ainda enfrentamos barreiras técnicas, operacionais e humanas, como:
- Sistemas legados que não se comunicam entre si;
- Dependência de fornecedores com baixa maturidade digital;
- Rotinas manuais persistentes em processos fiscais, frota ou devoluções;
- Falta de investimento em conectividade e infraestrutura (principalmente no Brasil);
- Resistência cultural à mudança e à automação profunda;
- Cenários imprevisíveis (clima, acidentes, greve, falhas humanas).
Em 2023, um estudo da PwC apontou que 74% das empresas logísticas brasileiras ainda têm processos críticos parcialmente manuais, principalmente em áreas como logística reversa, auditorias de frete e conferência de carga.
Fricção zero é um fim ou um meio?
Mais do que um objetivo absoluto, a fricção zero deve ser vista como uma bússola estratégica: um norte que guia a redução contínua de falhas, esperas, retrabalhos e ruídos.
Empresas que perseguem esse ideal colhem:
- Mais previsibilidade operacional;
- Menos custo oculto com falhas e retrabalho;
- Melhor experiência do cliente;
- Tomada de decisão mais rápida e embasada.
Mas é preciso reconhecer: a logística envolve variáveis reais, imprevisíveis e humanas. A utopia só se torna estratégia quando aceitamos os limites e buscamos eliminá-los com inteligência, e não obsessão.
A logística de fricção zero não é um destino pronto, mas um caminho de maturidade operacional.
Cada ponto de atrito que você elimina, uma conferência manual, uma nota em papel, um e-mail que poderia ser automatizado, aproxima sua operação de um modelo mais fluido, eficiente e integrado.
No fim, o que realmente importa não é eliminar toda fricção, mas saber onde ela está custando caro — e ter coragem de enfrentá-la com estratégia.