A importância de uma malha logística otimizada
*Por Fábio Sas, Sócio e Diretor de Comercial da Linear Softwares Matemáticos
Imagem: Shutterstock
No Brasil, a complexidade tributária é uma realidade inescapável para as empresas, tornando-se um fator crítico a ser considerado no planejamento corporativo. A malha logística, um elemento crucial que influencia as decisões estratégicas relacionadas à infraestrutura física e aos processos de movimentação de mercadorias, acaba sendo um dos pilares diretamente afetados.
Segundo um levantamento realizado pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), em parceria com o Sebrae, 96% dos empresários brasileiros avaliam que os altos encargos e a complexidade do sistema de arrecadação no Brasil representam uma barreira para o desenvolvimento de seus negócios.
Com a malha logística tributária exercendo um papel crucial no equilíbrio entre os custos logísticos e as obrigações fiscais das empresas, a maneira como elas lidam com essa interação pode determinar sua competitividade e rentabilidade no mercado.
Dinâmica tributária
De acordo com o Impostômetro, painel eletrônico da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que mede o volume de impostos pagos pelos brasileiros, o país arrecadou mais de R$ 3 trilhões no ano de 2023. A alta carga de tributos, aliada ao excesso de burocracia, são apenas alguns dos diversos desafios enfrentados que adicionam custos operacionais e afetam a competitividade e a sustentabilidade dos negócios.
Dentre esses encargos, destacam-se aqueles que exercem uma influência direta sobre o planejamento e a execução das operações logísticas, como o ICMS, o PIS, a COFINS e o IPI. O ICMS, que incide sobre a circulação de mercadorias e serviços, é especialmente relevante, por sua aplicação variar de estado para estado, podendo representar uma fatia significativa dos custos logísticos, especialmente em operações interestaduais.
Malha logística
Se por um lado as empresas devem estar cientes do sistema tributário da qual estão sujeitas, a gestão logística é outro ponto que merece atenção redobrada por parte delas, por afetar diretamente a capacidade de atender às demandas dos clientes de forma rápida, confiável e econômica.
Inserido em qualquer negócio, o sistema de malha logística refere-se a toda a cadeia de suprimentos, desde a produção, estocagem, centros de distribuição e os demais players da supply chain. Seus gastos são relacionados à infraestrutura física e aos processos envolvidos na movimentação de mercadorias e produtos ao longo de uma cadeia de suprimentos.
Essa rede complexa abrange uma série de elementos, incluindo transporte, armazenamento, gerenciamento de estoque, processamento de pedidos e distribuição. Uma malha logística bem projetada e operada pode reduzir os custos operacionais, melhorar o serviço ao cliente, aumentar a flexibilidade e a capacidade de resposta e contribuir para a vantagem competitiva de uma companhia.
Malha logística tributária
Para superar os desafios estabelecidos pela complexa rede de impostos brasileira nos processos logísticos de uma empresa, estudos de malha logística levando em consideração tais aspectos fiscais surgem como abordagem estratégica, trazendo uma distribuição mais inteligente e econômica.
Em um primeiro momento, a escolha entre modalidades de transporte de mercadorias não é apenas uma questão de distância e velocidade, mas também de implicação tributária. Em uma série de casos, seguir pelo caminho mais curto não necessariamente resulta em um menor gasto, pois a dinâmica fiscal pode beneficiar a empresa, mesmo que, para isso, se realize um percurso mais longo. Além disso, diferentes modalidades podem estar sujeitas a diferentes regimes fiscais, afetando diretamente os custos e a eficiência da operação logística.
Já a localização de armazéns e centros de distribuição deve ser determinada além de fatores como a proximidade aos clientes, mas também pelas implicações fiscais, como alíquotas de ICMS e incentivos oferecidos por diferentes regiões.
Por fim, a gestão de estoques completa os pilares da malha logística. Uma gestão eficiente não apenas garante a disponibilidade dos produtos certos onde deveriam estar, mas também ajuda a minimizar custos e a evitar problemas fiscais decorrentes de excessos ou faltas de estoque.
Reforma tributária
A reforma tributária (PEC 45/2019), finalmente aprovada pelo Congresso após 30 anos de discussão no Brasil, tem como objetivo simplificar a taxação sobre o consumo de bens e serviços, substituindo cinco tributos por um Imposto sobre Valor Adicionado (IVA). Essa mudança afeta diretamente estratégias de malha logística, pois a cobrança de impostos passará a ser feita no destino (local de consumo) em vez da origem (local de produção), visando eliminar a guerra fiscal entre estados e municípios.
O novo sistema, que será implementado gradualmente até 2033, prevê uma alíquota padrão e outra diferenciada, além de descontos para setores como saúde e educação. No entanto, a discussão sobre a alíquota do novo imposto é polêmica, com projeções indicando que ela pode ser uma das mais altas do mundo. A transição para unificação dos tributos terá um período de sete anos, com redução gradual das alíquotas do ICMS e do ISS até a vigência integral do novo modelo em 2033.
Vale ressaltar que a Reforma Tributária não deve provocar uma mudança repentina na malha logística do país, com as empresas levando em consideração as novas regras para a decisão de novos projetos. É provável que ocorra uma mudança gradual, devido aos altos custos envolvidos nessas operações, com companhias reavaliando investimentos já realizados.
Em um cenário onde a competitividade é acirrada e a margem de lucro é sensível a cada centavo, é fundamental estar atento às mudanças na legislação fiscal e compreender sua interação com estudos logísticos. Essa busca constante por maneiras de otimizar a cadeia de suprimentos se torna uma peça-chave para alcançar o sucesso empresarial.
*Fábio Sas é Diretor de Comercial da Linear Softwares Matemáticos, empresa brasileira que traz a inteligência matemática para a tomada de decisões empresariais, por meio do desenvolvimento de soluções matemático-computacionais para a otimização de processos de supply chain.