Clamar pelo que queremos ser

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A Comissão Europeia, através da comissária dos Transportes, Violeta Bulc, definiu a multimodalidade como o grande objetivo a atingir para 2018. A Comissão pretende lançar iniciativas políticas e legislativas, no âmbito da digitalização, da inovação, das smart cities, do ambiente e da eficiência, reforçando o compromisso assumido no Acordo de Paris, ratificado em 2015.

Neste sentido, Bruxelas já se comprometeu em promover a redução das emissões de dióxido de carbono (CO2), do congestionamento de tráfego e da poluição do ar, através do funcionamento do setor dos transportes como um sistema totalmente integrado. Pretendendo rever a diretiva relativa ao transporte combinado, a Comissão irá estudar incentivos às empresas de logística que permitam aumentar o uso de meios de transportes de mercadorias sustentáveis.

Sendo de louvar esta iniciativa, é expectável que tenha fortes impactos nos princípios orientadores do próximo quadro financeiro plurianual, assim como no próximo programa-quadro, além de reflexos visíveis nas políticas dos vários países da União Europeia (UE).

Atualmente, a multimodalidade tem ainda uma grande margem para o seu crescimento, sendo que tal depende de definições políticas e legislativas por parte da UE, mas também das estratégias e políticas dos Estados-membros, assim como do grau de profissionalismo dos agentes económicos presentes no setor.

Portugal não estará isento às determinações oriundas de Bruxelas e será desejável que o Governo tenha presente essas determinações aquando da definição do programa Portugal 2030, atualmente em preparação. Deste, sabe-se da importância e necessidade de um “desenvolvimento competitivo dos territórios, incentivando os processos de inovação nas empresas, através da inserção de recursos humanos qualificados”. Através dos seus objetivos transversais (inovação e conhecimento, qualificação, formação, emprego e sustentabilidade demográfica); e dos objetivos de incidência territorial (energia e alterações climáticas, economia do mar e redes e mercados externos), existe espaço para preparar estratégias robustas e exequíveis que conduzam ao aumento da competitividade dos sistemas de transportes e logística, a nível nacional, ibérico e europeu. A localização geoestratégica de Portugal é uma mais-valia determinante que possibilita o reforço do país nas cadeias do comércio mundial. Haja vontade de reforçar as capacidades do sistema portuário, colocar a ferrovia como eixo central dos transportes de longo curso e o transporte rodoviário com condições de competitividade.

Assim, talvez tenhamos soluções de multimodalidade que trarão mais eficiência à cadeia de transportes.

Mas as responsabilidades são de todos e os agentes económicos não poderão ficar sentados à espera de que o Estado faça, promova e execute. Também eles e as associações que os representam têm a obrigação de ser agentes da mudança, aplicando as melhores práticas, as soluções e alternativas mais eficientes, mas sobretudo incutindo uma formação qualificada aos seus quadros e o recurso aos sistemas de inovação e desenvolvimento. Clamar pelo que queremos ser e não estar disponível para o sermos, é o princípio dos fracos e pobres de espírito.

por José Monteiro Limão