CONFLITOS INTERNACIONAIS, MUDANÇAS CLIMÁTICAS E TRIBUTAÇÕES: ESPECIALISTA APONTA 2025 COMO ANO DESAFIADOR PARA LOGÍSTICA INTERNACIONAL
O especialista em comércio exterior Jackson Campos analisa setor e aponta próximo ano como desafiador para importadores e exportadores brasileiros
2024 foi um ano cheio de altos e baixos para o comércio exterior brasileiro e mundial e 2025 não deve ser diferente. Com diversos percalços geopolíticos, aumentos de preços e as mudanças climáticas afetando diretamente o transporte de cargas, os consumidores e empresários precisam se preparar para a manutenção do custo do frete.
Avaliando o que passou, o especialista em comércio exterior Jackson Campos classifica 2024 como “difícil” e que o próximo ano deve ser ainda mais truncado. “Estamos vindo de um ano desafiador para o comex e 2025 não deve ser diferente. Os fretes não devem cair muito com o encerramento da peak season, ficando acima do normal. Além disso, os conflitos internacionais estão se intensificando, prejudicando rotas cruciais. Devemos esperar por mais dificuldades e mudanças chegando neste novo ciclo”, analisa Campos.
O conflito no Mar Vermelho, por exemplo, foi um fator que encareceu o frete de produtos internacionais e que deve continuar sendo problemas. Tendo se intensificado no final de 2023, os houthis continuam atacando embarcações que tentam utilizar o Canal de Suez e fazem com que as cargas tenham que dar a volta pelo sul da África para ter mais segurança, aumentando em mais de uma semana o tempo de transporte das mercadorias.
Com o conflito entre Israel e Palestina se intensificando e atingindo outros países como Irã, Líbano e agora a Síria, a região ficou ainda mais instável e a rota mais curta entre Ásia e Europa teve que ser evitada para proteger a tripulação dos navios.
“Houve uma escalada muito grande nos últimos meses na guerra entre esses países e as empresas de frete internacional não viram outra solução a não ser seguir pela rota mais longa em busca de segurança. É preciso ficar atento aos preços de barris de petróleo, já que a região é um expoente nesta commodity e pode fazer com que o frete fique ainda mais caro”, afirma o especialista.
Brasil
A estiagem no Amazonas que afetam os principais rios do estado tem causado transtorno para as empresas de frete hidroviário, prejudicando a Zona Franca de Manaus. Com o baixo nível do rio, uma taxa extra começou a ser cobrada pelas transportadoras, e as empresas na Zona Franca de Manaus, em especial as montadoras, passaram a sentir no bolso os prejuízos da falta de rotas alternativas.
“A falta de investimentos em rotas alternativas no Norte do país escancarou os transtornos que as mudanças climáticas podem causar na economia. Apesar de ter subido um pouco o nível do rio, fica claro que a logística brasileira ainda precisa de muito investimento para poder suportar todo o poder de exportação e importação que o país tem, é algo que o poder público precisa olhar com mais carinho”, diz Campos.
Após a controversa “taxação das blusinhas”, os Estados decidiram por mais um aumento, desta vez no ICMS dos produtos internacionais de 17% para 10%. Dessa forma, um item que custava R$100, que custaria R$144,4 pelas regras atuais aprovadas em agosto, passará a custar R$150 a partir de abril de 2025 para empresas dentro do Programa Remessa Conforme. Para compras acima de US$50, a cobrança se mantém em 60% mais 20% de ICMS.
“O novo aumento vai dificultar ainda mais a importação direta pelo consumidor, fazendo com que eles procurem pelas lojas e varejistas brasileiras, que serão diretamente beneficiadas. A medida não valoriza o mercado brasileiro, apenas precariza o acesso a estes produtos pelas classes D e E.”, explica Jackson.
Campos ainda aponta para a falta de investimento na logística do país, que é precarizada em alguns pontos e não consegue suportar a demanda nacional. “É necessário que exista um olhar mais cuidadoso para estas questões, o modal ferroviário traria facilidades imensas no transporte de grãos e cargas mais pesadas, mas não há movimentos de expansão. O Poder Público deveria avaliar com mais estima este ponto, já que milhares de reais são perdidos por conta de falhas na logística”, finaliza o especialista.
Saiba mais sobre Jackson Campos: Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo, Campos atua com comércio exterior e relações governamentais há anos, o que o coloca em posição de destaque para abordar quaisquer desdobramentos relacionados à importação, exportação, comércio exterior e lobby. O especialista que também é Fellow do CBEXs possui facilidade em explicar todos os processos e etapas que fazem parte do ciclo de vida de um determinado produto, desde a movimentação de seus insumos até a sua entrega no cliente, desvendando dados, estatísticas e revelando os percalços do comércio exterior. Saiba mais em: Jackson Campos