ESG: o valor do S à rotina corporativa
Por Elias Rogério da Silva, Presidente da Diebold Nixdorf Brasil
Sustentabilidade. Basta uma rápida pesquisa para percebermos que este é o tema do momento. E não é para menos. Com a rápida e imprevisível rotina de transformação de nosso mundo, entender as questões ambientais, sociais e de governança – as pautas da agenda ESG (Environmental, Social, and Governance, em inglês) – é uma tarefa que já não pode ser deixada para o amanhã.
Dentro das discussões sobre um futuro sustentável, no entanto, é comum avaliarmos essa estrutura por ângulos que, geralmente, se restringem a alguns temas, como a preservação do meio ambiente. Evidentemente, proteger a natureza é parte fundamental do universo de ESG. Mas não é só isso: está na hora de as lideranças entenderem, também, como a sustentabilidade de suas relações com a sociedade afeta a reputação e a influência das organizações diante dos diversos grupos de consumidores, inclusive e com especial destaque aos funcionários.
Temos de nos lembrar repetidamente de que funcionários satisfeitos trabalham mais, permanecem mais tempo com seus empregadores e buscam produzir melhores resultados para a organização. E nesse cenário, parece cristalino afirmar que as ações de ESG e o sentimento dos profissionais são pontos cada vez mais conectados e indissociáveis.
Estudos conduzidos pela consultoria MSCI indicam, por exemplo, que as organizações com pautas sustentáveis mais maduras têm notas de satisfação dos colaboradores, em média, 14% maiores do que os rivais sem ações práticas nesse quesito. Além disso, essas empresas são 25% mais atraentes para novos talentos.
Isso significa que empregadores com melhores índices de retenção de funcionários têm pontuações em análises de ESG significativamente mais altas do que seus pares. Este padrão, definitivamente, não é uma coincidência. A preocupação com o “S” do ESG tem se tornado uma condição essencial para ajudar as companhias a reduzir custos com turnover e para contratação de jovens promissores, bem como potencializar a reputação e a imagem de suas marcas junto ao público em geral, começando por seus próprios colaboradores.
Ou seja, em um mundo no qual as fronteiras já inexistem e que a competição por inteligência é vital para qualquer negócio, saber lidar com o ESG dentro de casa é uma necessidade muito mais urgente do que muitos líderes atuais conseguem imaginar. Até porque, é bom destacar, que a agenda ESG não é apenas um trend passageiro. Estamos no começo de uma jornada na qual líderes de todos os setores terão de entender como garantir que as pessoas tenham espaço para desempenharem seus papeis com mais inteligência e efetividade. Vale salientar, por exemplo, que, em 2029, os Millennials e Gen Z representarão 72% da força de trabalho mundial. Essas gerações são as que mais importância dão às questões ambientais e sociais e, por conseguinte, esperam mais dos empregadores também.
Como fazer isso? Primeiro, construindo uma mentalidade realmente orientada à sustentabilidade. Para tanto, é preciso compreender bem o ambiente e os desafios específicos de cada área, local e público, alinhando essas perspectivas e interesses aos valores e ideias da organização. A próxima etapa é agir de maneira verdadeira e com real preocupação com o que a sociedade (e seus stakeholders) dizem e buscam.
O momento exige que as ações de sustentabilidade social sejam práticas e gerem valor ás pessoas. Temos de ir além da oferta de escritórios confortáveis e salários competitivos, buscando formas reais de valorizar o bem-estar financeiro, físico e psicológico dos trabalhadores.
Os resultados desse tipo de proposta são evidentes, começando por uma estrutura de “ganha-ganha” infindável. Ajudar os trabalhadores a terem mais qualidade de vida, pertencimento e destaque também ajuda a elevar o potencial de competitividade, inovação e financeiro de qualquer organização.
Cumprir a jornada de ESG, portanto, não deve ser visto como uma ameaça ou um custo extra, trazido à esteira de obrigações trabalhistas, ecológicas e de compliance. Ao contrário. É necessário que as lideranças observem essas demandas como uma importante oportunidade de desenvolvimento contínuo. As empresas que implementam metas ambientais, sociais e de governança ganham em visibilidade, reputação e na capacidade de resiliência e sustentabilidade.
As empresas estão sendo, mais do que em qualquer outra época, examinadas por sua capacidade de conduzir e moldar um ambiente positivo para todos os públicos interessados (a comunidade, a sociedade, os colaboradores, acionistas etc.). Errar pode ter um impacto enorme, tanto em termos de lucratividade quanto de reputação; do mesmo, acertar em uma estratégia de ESG pode representar enormes ganhos.
O valor de uma marca empregadora sempre esteve intimamente ligado aos resultados que a companhia alcançava. Agora, porém, é seguro dizer que a geração de valor também estará diretamente relacionada à percepção que as pessoas – consumidores, clientes e colaboradores – têm sobre as empresas. Para os lideres dessas companhias, portanto, negligenciar as questões de ESG é muito mais do que simplesmente não pensar no futuro; é, antes disso, uma decisão radical que fará com que suas marcas não cheguem nem mesmo a vivê-lo.
Ana Flávia Richter Lapa
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