Logística de Fricção Zero: Utopia ou Caminho Estratégico?

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Logística de Fricção Zero: Utopia ou Caminho Estratégico?

Lauanna Medeiros

Lauanna Medeiros

Gerente de Logística | Distribuição e Transporte | Gestão Estratégica de Processos | Melhoria Contínua
 
A promessa de uma cadeia logística totalmente fluida, sem gargalos, sem falhas manuais, sem atrito entre sistemas ou processos; soa como utopia?

Talvez sim. Mas a busca pela chamada “logística de fricção zero” já é uma realidade em grandes operações e não se trata apenas de automação, mas de conectividade inteligente, decisões baseadas em dados e fluidez operacional de ponta a ponta.

O que significa “Logística de Fricção Zero”?

É um modelo logístico em que todos os processos, sistemas, pessoas e tecnologias operam de forma:

  • Conectada: integração entre ERPs, TMS, WMS, OMS e plataformas externas;
  • Automatizada: mínima intervenção humana nos fluxos rotineiros;
  • Orquestrada: decisões em tempo real com base em dados compartilhados;
  • Previsível e transparente: rastreabilidade total e visibilidade ponta a ponta.

O termo deriva do conceito de “frictionless experience” já aplicado no varejo e no setor financeiro, e agora adaptado à logística.

Onde já avançamos?

As empresas mais maduras em supply chain já aplicam:

  • Gate automation: veículos entram e saem de centros logísticos sem intervenção humana;
  • Picking automatizado: por voz, luz ou robôs (AGVs);
  • WMS e TMS integrados ao OMS (Order Management System);
  • Inteligência artificial para previsão de demanda e roteirização dinâmica;
  • Painéis em tempo real com indicadores operacionais (BI e IoT);
  • Automação fiscal e documental via RPA.

Cases notáveis:

  • Amazon: opera hubs com quase 100% de automação no picking e armazenagem.
  • Magazine Luiza: integra canais online e físicos com orquestração via OMS em tempo real.
  • Mercado Livre: implementa alta densidade de sorters, esteiras automatizadas e centros operando com mais de 400 mil pedidos/dia com intervenção mínima.

Mas… onde ainda há fricção?

Apesar dos avanços, ainda enfrentamos barreiras técnicas, operacionais e humanas, como:

  • Sistemas legados que não se comunicam entre si;
  • Dependência de fornecedores com baixa maturidade digital;
  • Rotinas manuais persistentes em processos fiscais, frota ou devoluções;
  • Falta de investimento em conectividade e infraestrutura (principalmente no Brasil);
  • Resistência cultural à mudança e à automação profunda;
  • Cenários imprevisíveis (clima, acidentes, greve, falhas humanas).

Em 2023, um estudo da PwC apontou que 74% das empresas logísticas brasileiras ainda têm processos críticos parcialmente manuais, principalmente em áreas como logística reversa, auditorias de frete e conferência de carga.

Fricção zero é um fim ou um meio?

Mais do que um objetivo absoluto, a fricção zero deve ser vista como uma bússola estratégica: um norte que guia a redução contínua de falhas, esperas, retrabalhos e ruídos.

Empresas que perseguem esse ideal colhem:

  • Mais previsibilidade operacional;
  • Menos custo oculto com falhas e retrabalho;
  • Melhor experiência do cliente;
  • Tomada de decisão mais rápida e embasada.

Mas é preciso reconhecer: a logística envolve variáveis reais, imprevisíveis e humanas. A utopia só se torna estratégia quando aceitamos os limites e buscamos eliminá-los com inteligência, e não obsessão.

A logística de fricção zero não é um destino pronto, mas um caminho de maturidade operacional.

Cada ponto de atrito que você elimina, uma conferência manual, uma nota em papel, um e-mail que poderia ser automatizado, aproxima sua operação de um modelo mais fluido, eficiente e integrado.

No fim, o que realmente importa não é eliminar toda fricção, mas saber onde ela está custando caro — e ter coragem de enfrentá-la com estratégia.