Logística Reversa no Brasil:
desafios e oportunidades para a sustentabilidade empresarial
Com taxa de reciclagem ainda abaixo de 5%, país enfrenta desafios e oportunidades para transformar resíduos em valor econômico e vantagem competitiva
Imagem: Freepik
A logística reversa, processo que envolve o retorno de produtos e materiais do consumidor ao ponto de origem para recuperação de valor ou descarte adequado, deixou de ser apenas um custo operacional para se tornar uma das frentes mais estratégicas das empresas brasileiras. Mais do que atender a exigências legais, ela vem se consolidando como um caminho para gerar eficiência, fortalecer a imagem corporativa e criar novas oportunidades de negócio.
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estabelecida em 2010, foi um marco decisivo. Ela instituiu a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, impulsionando a criação de sistemas de logística reversa para setores como embalagens, eletroeletrônicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes e agrotóxicos.
Apesar disso, o país ainda enfrenta grandes desafios: considerando também o trabalho dos catadores informais, o índice de reciclagem chegou a cerca de 8% em 2023, segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). Já no recorte dos resíduos sólidos urbanos, o percentual foi de aproximadamente 4,5%.
No entanto, continua longe da meta da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que visa reciclar 20% dos resíduos até o final de 2025, de acordo com o Instituto de Logística Reversa.
Para efeito de comparação, dados do Eurostat apontam que, na União Europeia, a taxa média de reciclagem de resíduos urbanos atingiu 48% em 2022, mostrando a distância entre o Brasil e mercados mais maduros.
Essa regulamentação mais rígida, combinada com a crescente conscientização ambiental, está forçando as empresas a repensar seus modelos de negócio e investirem em soluções sustentáveis para o descarte e reaproveitamento de materiais. Um exemplo disso é o uso de plataformas digitais para leilões de itens devolvidos ou sem destino final.
“Essa prática desafoga os centros logísticos e oferece aos consumidores a chance de comprar produtos com descontos de até 90% em relação ao preço de mercado, incentivando um consumo mais consciente”, explica o CEO da Kwara, plataforma especializada em leilões digitais, Thiago da Mata.
Benefícios empresariais comprovados
Parte essencial dessa transformação, a logística reversa permite o reaproveitamento de produtos e materiais no ciclo produtivo, seja por meio da reutilização, reciclagem ou descarte adequado. Apesar de sua importância, a falta de infraestrutura faz com que cerca de 45% dos resíduos passíveis de reaproveitamento sejam perdidos anualmente, o que representa um prejuízo estimado em R$ 14 bilhões, segundo a Abrelpe.
Entretanto, conforme a McKinsey & Company, 60% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis, evidenciando a importância de integrar a técnica aos modelos de negócios. Entre os principais benefícios da adoção estratégica da logística reversa estão:
- Redução de custos: revalorização de materiais, diminuição de despesas com descarte e otimização de processos.
- Melhora da imagem da marca: atraindo consumidores conscientes e fortalecendo a reputação corporativa.
- Aumento da competitividade: inovação em modelos de negócio e diferenciação no mercado.
- Cumprimento de metas ESG: contribuição para objetivos ambientais, sociais e de governança.
“A logística reversa deixou de ser um diferencial e passou a ser uma obrigação estratégica. As empresas que enxergam valor nesse processo não apenas reduzem custos, mas também ganham competitividade e fortalecem sua relação com consumidores cada vez mais atentos ao impacto ambiental das marcas”, afirma Thiago.
Tendências e oportunidades do setor para os próximos anos
- Tecnologia potencializando a logística reversa: soluções digitais que conectam vendedores e compradores de forma ágil e transparente estão maximizando o valor de ativos em desuso, materiais reprocessados, excedentes de estoque ou produtos reformados.
- Economia circular em ascensão: a transição para um modelo que busca maximizar o valor dos recursos exige produtos projetados para durar mais, serem reparados, reutilizados e reciclados.
- Novos modelos de negócio: a expansão do mercado de produtos recondicionados e usados impulsiona a demanda por sistemas de logística reversa mais robustos e eficientes.
- Agilidade na reintrodução de ativos no mercado: a venda de produtos recondicionados, peças de reposição e equipamentos usados prolonga a vida útil dos itens e evita o descarte prematuro.
- Transparência e precificação justa: estabelecer preços adequados para materiais reciclados incentiva sua coleta e destinação correta, além de criar receitas adicionais.
- Otimização da gestão de estoques e descarte: sistemas digitais permitem liquidar ativos de forma eficiente, transformando itens ociosos em capital.
- Sustentabilidade como diferencial competitivo: a redução de lixo, a conservação de recursos e a diminuição da pegada ambiental fortalecem a imagem corporativa e atendem a um consumidor cada vez mais exigente.
“Estamos entrando em um momento em que a tecnologia e a sustentabilidade caminham lado a lado. A logística reversa digitalizada tem potencial para transformar desperdício em oportunidade, criando novos mercados e permitindo que empresas de diferentes portes participem ativamente da economia circular”, complementa o CEO da Kwara.
O futuro é sustentável, colaborativo e digital
A logística reversa no Brasil está se tornando mais dinâmica e integrada, impulsionada por tecnologia, novos modelos de negócio e consumidores mais exigentes. Esse movimento exige colaboração entre empresas, governo e sociedade, com foco em eficiência e sustentabilidade.
“O sucesso da logística reversa depende da soma de esforços. Nenhuma empresa consegue atuar sozinha nessa agenda. A integração entre tecnologia, inovação e compromisso ambiental é o que vai diferenciar quem apenas cumpre uma obrigação de quem está construindo valor para o futuro”, finaliza Thiago da Mata.