Os 10 mandamentos para a descarbonização da sociedade (e da cadeia logística)

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Os 10 mandamentos para a descarbonização da sociedade (e da cadeia logística)

*Luís Marques

Quando avaliamos os principais vetores que podem facilitar o processo de descarbonização, ou seja, a redução na atmosfera da emissão de gases de efeito estufa (GEE), visando maior sustentabilidade ambiental, encontramos estratégias que nos permitem racionalizar e estruturar os nossos comportamentos de modo a potencializar os resultados, que de outra forma demorariam muito mais tempo para serem alcançados.
 

Uma dessas estratégias é classificar as várias ações possíveis que podem contribuir para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Ação pelo Clima) – em “10 mandamentos”, seguindo o exemplo que levou Moisés a promover, junto do povo que liderou do Egito à terra prometida, a adoção das regras que ainda hoje são universalmente válidas, mesmo 3.300 anos depois.
 

Seguramente, os 10 mandamentos da descarbonização descritos a seguir não serão mais válidos daqui a 100 anos, mas sem dúvida são muito importantes nos dias de hoje:
 

Educação e Conscientização – promover a conscientização pública sobre os impactos das emissões dos GEE e a importância da sua forte redução, imediatamente, principalmente junto às pessoas mais velhas, nascidas e criadas em tempos em que o meio ambiente não fazia parte das discussões e que, ainda por cima, são as que lideram hoje os processos, projetos e investimentos nas empresas e na administração pública.
 

– Legislação – fundamental para nivelar a concorrência – não permitindo que quem saia em primeiro lugar em defesa da proteção ambiental chegue em último na competitividade econômica – forçando uma mudança drástica de comportamentos.
 

– Consumo consciente e exigente – repensar os hábitos para consumir produtos e serviços de maneira mais responsável. Incentivar, também, a produção mais próxima do consumo, além do uso de embalagens menores e biodegradáveis, visando menor impacto ambiental.
 

– 3 R’s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) – apresentada na Conferência da Terra, em 1992, no Rio de Janeiro, a metodologia dos 3 R’s chama a sociedade para a alteração dos seus comportamentos perante os produtos que são produzidos e colocados à sua disposição.
 

– Mobilidade e Transporte – estima-se que o transporte de mercadorias represente, sozinho, cerca de 11% do total das emissões globais de GEE, pela dependência histórica dos combustíveis fósseis. Os combustíveis de nova geração, bem mais sustentáveis, vão demorar vários anos para terem utilização universal – fazendo com que as indústrias alterem a forma como calculam a eficiência das suas cadeias de abastecimento, levando em conta o critério “emissões” além dos critérios “custo” e “tempo” no que diz respeito aos transportes.
 

– Gestão eficiente de energia – a implementação do horário de verão faz todo o sentido no centro-oeste, no sudeste e no sul do Brasil, para o aproveitamento da luz solar no final do dia, sem comprometer a atividade no início da manhã. Quem madruga sabe que em novembro, dezembro e janeiro já é dia pleno às 5h30, mas ninguém trabalha até às 7h. Uma hora e meia de luz natural desperdiçada que poderia ser utilizada à noite, no regresso a casa, prolongando o período sem necessidade de luz nas casas, ruas e estradas.
 

– Agro sustentável – o gás metano gerado pela pecuária brasileira é a principal emissora de GEE uma vez que este gás é 86 vezes mais nocivo para a atmosfera do que o CO2. É possível melhorar a gestão dos dejetos dos animais, a utilização de biodigestores e a promoção da utilização do metano como biogás renovável.
 

– Inovação e Tecnologia – carros elétricos, ônibus a hidrogênio verde, navios com biofuel etc. são bons exemplos de como a Inovação e a Tecnologia têm sido utilizadas para um mundo menos poluído. Promover e incentivar fiscalmente a inovação com vista a resultados de emissões “zero” ou “neutro” deveria fazer parte de uma política verdadeiramente sustentável.
 

Na logística, o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental é um desafio inerente ao processo de descarbonização. A formulação de cadeias de abastecimento mais sustentáveis, com a inclusão de critérios ambientais nas decisões estratégicas, é primordial para edificar um setor logístico mais resiliente e sustentável. O caminho verde não é o mais fácil, e seguramente não é o mais barato, mas exige um compromisso inabalável de todos. Pelos nossos filhos e netos.

*Luís Marques é CEO Brasil & Argentina da DB Schenker, líder global em soluções logísticas.