Os desafios da segurança logística em Pernambuco
por Claudio Batista*
Nos últimos anos, o roubo de cargas tem se tornado um problema crônico e com abrangência nacional, fomentando o mercado da venda ilegal e elevar os custos dos produtos. É certo afirmar que o combate ao roubo de cargas não é apenas uma questão policial, mas um assunto de interesse social, pois envolve a segurança dos motoristas de caminhão e funcionários das transportadoras.
Segundo o Monitor da Violência, levantamento do G1 com base nos dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), em 2023, Pernambuco teve a segunda maior taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) por 100 mil habitantes do Brasil, ficando atrás apenas do Amapá. Foram registrados 38,8 crimes violentos a cada 100 mil residentes em Pernambuco somente no ano passado. A taxa média do Brasil no mesmo período foi de 19,4.
Em se tratando especificamente do roubo e furto de cargas, o estudo traz uma visão abrangente dos desafios e oportunidades para as empresas de logística sugerindo a adoção de medidas preventivas, focando os esforços na eliminação das fragilidades e, após mapear os riscos, a recomendação é buscar soluções para elevar os níveis de segurança e garantir que as operações sejam realizadas com os riscos gerenciados.
Nota-se, porém, que em 2023, a distribuição do roubo e furtos de cargas no estado, quando detalhado por região, mostra que existe uma forte atuação de Crimes Violentos Contra o Patrimônio (CVP) em regiões urbanas. A Capital e a Região Metropolitana concentram 70,3% das ocorrências, sendo Recife com 40,5%.
Já a análise por microrregiões revela que a maioria dos roubos ocorrem à noite e durante os dias úteis, reforçando a vulnerabilidade dos processos logísticos no transporte de cargas.
Quando destrinchamos a série histórica de ocorrências por meses do ano, os padrões sazonais revelam janeiro e março como os meses com picos anuais no aumento das ocorrências e, por esse motivo, o monitoramento deve ser contínuo.
Já a pesquisa ‘Panorama de Roubo de Carga na Cadeia Logística na Região Nordeste’, baseada em dados disponibilizados pelo Ministério da Justiça e pela Secretaria de Segurança Pública, aponta que, dentro do Nordeste, Pernambuco se destaca como o estado com o maior número de ocorrências de roubo de cargas, registrando 40,69% em 2023 frente aos 36,23% do ano anterior.
Depois de Pernambuco, o estado da Bahia aparece como segundo ofensor do Nordeste, com 32,47% dos roubos na região em 2023, registrando uma pequena redução frente ao ano anterior, com 34,58%. Juntos, Pernambuco e Bahia, representam mais de 73% do total de roubos de cargas em 2023. A alta incidência de roubos em estados como Pernambuco e Bahia reflete a importância estratégica dessas regiões para o crime organizado, que visa suprir os grandes mercados consumidores do Sudeste.
Diante destas análises, é essencial uma ação coordenada entre as forças de segurança dos estados afetados e uma maior vigilância nas principais rotas de transporte. Além disso, é muito importante que empresas logísticas reforcem o relacionamento institucional de acordo com as melhores práticas de compliance, visando a mitigação de riscos e a redução dos indicadores de criminalidade, mantendo o monitoramento dos KPIs e das tendências de Segurança Pública macros e microrregionais.
Partindo desta premissa, identifique e mapeie os riscos elaborando um plano capaz de nortear as ações que precisam ser adotadas e, a partir daí, , analisar e propor soluções e recursos para minimizá-los. É preciso ter uma visão macro dos perigos que cercam o negócio para conseguir proteger o patrimônio de forma efetiva.
Para combater o modus operandi das facções criminosas, se faz necessário utilizar mecanismos de proteção avançados como os rastreadores e os gerenciadores de risco, que coletam um grande volume de informação em tempo real, sendo um importante instrumento de auxílio à defesa para a segurança.
É racional afirmar que a tecnologia não substitui as atitudes preventivas, mas pode ser uma grande aliada contra a criminalidade, como drones, alarmes controlados remotamente, fechaduras digitais e inteligentes ou câmeras embarcadas nos veículos. Por exemplo, por meio de videotelemetria e da Inteligência Artificial é possível registrar eventos de direção perigosa como aceleração, curva e frenagem brusca, distração ao volante e proximidade do veículo à frente.
Entretanto, é sempre bom alertar que, para que não haja uma falsa sensação de segurança em torno destes equipamentos, é fundamental que eles atuem junto de um monitoramento adequado e procedimentos bem estruturados, como capacitação dos profissionais envolvidos com a segurança. Integrar tecnologias e mão de obra capacitada eleva significativamente os níveis de segurança e dificulta as ações criminosas.
E, por último, mas não menos importante, considere o apoio de especialistas com visão e conhecimento abrangentes sobre ameaças, perigos e riscos para transformar a área de segurança em um setor estratégico e ter mais eficiência na redução de prejuízos, sejam estes financeiros, estruturais ou reputacionais.
*Claudio Batista é consultor Sênior de Segurança Empresarial da ICTS Security, consultoria há mais de 30 anos reconhecida pela excelência em inteligência e gestão integrada de segurança.