Os impactos da supersafra nas empresas do Transporte Rodoviário de Cargas do Brasil
Com mais de 323 milhões de toneladas previstas para 2025, transportadoras enfrentam desafios para atender à alta demanda
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Com previsão de uma supersafra histórica de grãos em 2025, o Brasil segue consolidando sua liderança como um dos maiores produtores e exportadores do setor agropecuário no mundo. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção nacional deve atingir um recorde de 323 milhões de toneladas, um crescimento de 4,1% em relação ao ano anterior. Apesar do desempenho positivo, o cenário também expõe desafios estruturais, como o déficit de armazenagem e o aumento significativo da demanda pelo transporte rodoviário de cargas, modal responsável por escoar grande parte dessa produção.
Nesse sentido, as transportadoras que atendem ao segmento do agronegócio precisam apresentar um planejamento estratégico para atender essa alta demanda. Esse preparo é fundamental para garantir a agilidade no transporte, minimizar gargalos e atender a supersafra com qualidade e pontualidade.
Para Ludymila Mahnic, COO da Mahnic Operadora Logística — empresa com sede no Centro-Oeste, região que concentra boa parte da produção de grãos no país —, a atuação no mercado vai além do transporte. Por meio de sua Divisão Agrícola, a empresa também oferece soluções de armazenagem, destacando-se no suporte ao segmento. Segundo a executiva, garantir eficiência e apresentar um diferencial competitivo para os clientes requer planejamento e uma estrutura robusta.
“Hoje, contamos com uma frota de 135 veículos dedicados ao transporte de grãos atuando pela Mahnic Divisão Agrícola. Essa frota permite atender de forma integrada os agropecuaristas e os ciclos de safra. Além dos nossos principais clientes, conseguimos absorver novas demandas trazidas pela supersafra e faremos novos investimentos, pois mantemos um contato muito estreito com as concessionárias de veículos, que podem nos oferecer um diferencial no valor e na agilidade da compra para atendermos essa procura, reforçando nossa posição como um parceiro estratégico no agronegócio”, comenta a executiva.
Em contraponto, transportadoras do setor agropecuário no Sul do país destacam que a retenção e o recrutamento de novos motoristas são desafios latentes para atender às demandas crescentes. Para Franco Gonçalves, gerente administrativo da TKE Logística, de Araranguá, Santa Catarina, essa questão será decisiva para o Brasil superar os desafios logísticos impostos pela supersafra.
“Atualmente, as empresas que trabalham com o setor de lotação acabam focando muito no aumento da capacidade de transporte dos veículos. Existe, no entanto, um problema real dentro do nosso modal: a falta de motoristas; essa é uma questão generalizada. Muitas vezes, não está sendo possível repassar uma remuneração melhor para os motoristas devido à falta de lucratividade, causada pelos aumentos nos custos de combustíveis, inflação, entre outros fatores; esse cenário dificulta a contratação de motoristas. Portanto, entendo que a única alternativa para as empresas hoje seja tentar utilizar veículos com maior capacidade de carga e torcer para existir uma estrutura adequada para recebê-los”, avalia o executivo.
Desafios para o setor
Conforme exposto, o Brasil segue registrando safras recordes a cada ano, impulsionadas por avanços em produtividade. No entanto, esse crescimento acelerado não tem sido acompanhado por investimentos proporcionais na infraestrutura de armazenagem.
Entre 2010 e 2025, a produção de grãos brasileira cresceu, em média, 5,27% ao ano, enquanto a capacidade estática de armazenagem avançou apenas 2,80% ao ano, segundo dados do Conab. Esse descompasso resultou em um déficit significativo na capacidade de armazenamento estático nacionalmente, criando desafios para o escoamento e estocagem da produção.
Desta forma, o transportador rodoviário de cargas tem enfrentado um cenário de crescente demanda e desafios logísticos complexos. “Um dos grandes desafios enfrentados pela Mahnic Operadora Logística durante a supersafra é o tempo entre a carga e os descarregamentos, que pode chegar a três dias. Essa demora, aliada à falta de capacidade de armazenagem, pode ocasionar atrasos. Para minimizar esses impactos, investimos em soluções estratégicas para atender ao máximo essa demanda, aproveitando este período de alta como uma oportunidade de crescimento e bom faturamento para a empresa”, comenta Mahnic.
No caso da TKE Logística, embora a empresa não ofereça serviços de armazenagem de produtos, o entendimento é de que seja necessário compreender a particularidade de cada produto para atender ao embarcador da melhor forma possível. “Quando se fala em armazenagem de mercadorias, primeiro precisamos considerar o tipo de produto e suas exigências ou particularidades. Por exemplo, muitas vezes a indústria não conta com a transportadora para realizar essa atividade, pois os clientes preferem um controle maior sobre a armazenagem”, pondera Franco.
Diante da supersafra histórica prevista para o ano, o setor de Transporte Rodoviário de Cargas se posiciona como peça-chave para o escoamento da produção. Apesar dos desafios estruturais, as empresas vêm demonstrando que, com planejamento estratégico e soluções integradas, é possível transformar as dificuldades em oportunidades, fortalecendo sua atuação no agronegócio brasileiro.